SILENCIOSAMENTE EMOLDURADOS...

Posted: terça-feira, 29 de maio de 2012 by Ricardo Pereira in
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Somos improváveis criaturas que receberam um novo nome - “Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos Filhos de Deus, a saber, aos que creram no Seu nome” Jo 1:12 – Filhos de Deus. Aos filhos de Deus, autoridade e poder, foram inseridos na gênese de seus atos, pura e simplesmente para revelar a ELE, um Deus que no terceiro dia dividiu toda a história. Mas isso estamos cansados de saber, não é verdade?!

Olhando para vida de muitos discípulos bíblicos de Jesus, vemos a transmissão de reconhecimento de tudo para Deus. E aqui entra o paradoxo dessa discussão. “Importa que Ele cresça e eu diminua” (Jo 3:30). Uma bela fala, até repetimos ela. Importar que Ele cresça - é um ato de fé, que o nome dele apareça e o nosso não - é um ato de humildade. Silenciosamente fazendo as vontades Dele que ecoam no nosso coração. Estarrecido, tento entender a profundidade do discurso de Jesus, ao se referir a alguns escribas e fariseus:   
Fazeis e guardai, pois, tudo quanto eles vos disserem, porém não os imiteis nas suas obras; porque dizem e não fazem... Praticam, porém, todas as suas obras com o fim de serem vistos dos homens; pois alargam os seus filactérios e alongam as suas franjas. Amam o primeiro lugar nos banquetes e as primeiras cadeiras nas sinagoga... Quem a si mesmo se exaltar será humilhado; e quem a si mesmo se humilhar será exaltado.Jo 23:3; 5-6

Humanamente nossa alma busca por medalhas, troféus, certificados, reconhecimento público, nosso nome falado de boca em boca. Como se a pessoa que está a frente de um culto, célula, ou reunião, fosse mais especial para Deus, do que aquele que minutos antes arrumou as cadeiras, que varreu o chão, arrumou o som. Por isso cada um tem uma função neste organismo vivo chamado Igreja.

Ao pensar nestas coisas, me vem a cabeça a criança que Jesus coloca no centro, enquanto os seus 12 apóstolos discutiam pra ver quem era o maior no Reino de Deus, e Ele aponta para o pequenino:
Levantou-se entre eles uma discussão sobre qual deles seria o maior. Mas Jesus, sabendo o que lhes passava no coração, tomou uma criança, colocou-a junto de si e lhes disse: Quem recebe esta criança em meu nome a mim me recebe; e quem receber a mim recebe aquele que me enviou; porque aquele que entre vós for o menor de todos, esse é que é o grande. Lc 9:46-48

As vezes damos pouco crédito as “crianças espirituais”, como se anos de igreja fossem base para Deus. Ser como este pequenino, que Mateus também (Mt 18:4) denominou de “maior no Reino dos Céus” é buscar a inocência, sabendo que Deus é Deus, que é Ele quem dá a idéia, segura a caneta e escreve a história. Silenciosamente usa: “novos”, “velhos”, “doutores”, “néscios”, “improváveis”, “gagos”, “destemperados”, “incultos”, “cultos”, “vasos que ainda arrastam os pés sobre a lama”, “informes”... que têm um coração como de uma criança - que sabem que precisam do Pai.

Gerenciamos, muitas vezes, com alarde nossas ações, como se Deus não estivesse atento quando fazemos algo que ninguém viu, mas que honrou, tão somente a Ele. Silenciosamente obras primas do evangelho Vivo, emoldurados para um só telespectador – Deus.

 O apóstolo Paulo ao se referir a ele falava: Por que suponho em nada ter sido inferior a esses tais apóstolos”(2Co11:5) “dos apóstolos sou o menor, que mesmo não sou digno de ser chamado apóstolo” (1Co 15:9) e no final da sua vida, se via como “o menor de todos os santos” (Ef 3:8). O ministério de Paulo cresceu e sua alma diminuiu! “Tanto sei estar humilhado como também honrado; de tudo e em todas as circunstâncias, já tenho experimentado, tanto de fartura como de fome; assim de abundância como de escassez; tudo posso naquele que me fortalece.” (Fp 4:12-13). Saber receber honra, como humilhação, sem que isso seja um troféu, motivo de exaltação, foi algo que aprendemos com Paulo.

O seu “espinho na carne” era propulsor dessa revelação, para ele saber que havia um Deus que era suficiente - “Para que não me ensoberbecesse com a grandeza das revelações, foi me posto um espinho na carne, mensageiro de satanás, para me esbofetear, a fim de que não me exalte. Por causa disto, três vezes pedi ao Senhor que o afastasse de mim. Então, ele me disse: A minha graça te basta, porque o poder se aperfeiçoa na fraqueza...” (2Co 12:7)  Lendo isso, vejo que as vezes por tão pouca coisa nos ensoberbecemos, achamos que o nosso serviço, o nosso trabalho, a nossa revelação, o nosso muito fazer impressionam a Deus. Seguimos tendo lutas – espinhos na carne – que como Paulo, oramos e Deus as mantém, para que saibamos quem é que está no controle de tudo, quem que está escrevendo a história. Até que o silêncio toma conta do alarde em nossa alma!

 Com isso, entendemos uma coisa: Para um Cristão, não existe currículo. “Já ministrei célula, congresso, encontro, reencontro”, “já levei 20 pessoas pra Jesus”, “tenho os dons x, y e to recebendo o z”, “por minha causa fulano foi salvo” - falas das quais emolduram todo e qualquer ego. O cristianismo mais fácil que tem é o verbal – “Porque o Reino de Deus não consiste em palavras, mas em Poder”(1Co 4:20).

Concluo, dizendo que não somos uma igrejinha onde a placa simplesmente adorna uma bela fachada barulhenta. Somos plenos em potencial, do mais velho ao mais novo, Deus pode usar como quiser. Talvez a “mula de Balaão” se cobre por ter sido usada somente uma vez, fato é que ela participou da história, foi emoldurada com poucas palavras. Muitas vezes queremos ser grandes, que o nosso nome seja arrolado como referência. E isso é benção, desde que isso, não suba pra nossa cabeça!

Os aplausos de um SILÊNCIO, me aproximam mais, daquele que, de pé, sempre aplaudirei! Não quantifique o quanto você é ou não usado por Deus, isso pode gerar exaltação ou frustração, apenas se disponha a ser usado. O alarde é hipócrita quando o ator principal tem nome e sobrenome – Jesus Cristo.